Tavares: Lugar de Muitas Memórias

Tavares é um local de memória conhecido anteriormente por sua grande beleza;Hoje a comunidade lamenta a grande ganância do homem que contribuiu para que no local houvesse um grande deslizamento de terra que destruiu parte da antiga beleza do local.

Para conhecermos a região fomos acompanhados pelos guardiões da memória Sr.Maciel, Sr. Bernardo e Seu Cícero irmão do Cacique dos Kanindé de Aratuba.Os participantes falaram das memórias que aquele lugar trazia, uma época de fartura e abundância de água, em que a beleza era algo inexplicável.

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A Vocação de Ensinar

Foi alegremente que Ivonês, 27 anos, assumiu diante daquela classe a sua indentidade indígena e ostentou que sua profissão como educadora é a materialização de um sonho realizado.

 Perguntamos a ela sobre o que, em sua opinião, seria um trabalho digno. Sua posição foi a de que a dignidade provém do esforço e perseverança em direção aquilo que se deseja tornar realidade. A firmeza e maturidade das palavras dessa jovem, certamente guardava algo de ancentral. Sua voz era o eco de muitas outras vidas, simples como ela também se mostrou, zelando e influindo sobre as decisões das gerações do povo kanindé.

Entrega de Certificados na Comunidade de Fernandes – Aratuba

A entrega dos certificados foi um momento de grande euforia, todos estavam ansiosos para ver o que para eles é a concretização de uma semana de esforço e novas experiências.Somos gratos a Aratuba, gratos ao seu povo  e temos a certeza de que a saudade ainda ficará.

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“Alguns de nossa aldeia foram embora,

e a saudade no peito ainda mora.

Guardo com amor e carinho

por isso não estamos sozinhos

zelamos por nossa cultura,

que é tão pouco preservada

vamos botar pra frente pra que não seja acabada.”

Autora: Valdilane Santos Alexandre

 (Participante do Projeto Patrimônio Para Todos 2012/Aratuba)

Caixas da Memória da comunidade Fernandes – Aratuba

            Nossa jornada chega ao fim, hoje tivemos apresentação das tão esperadas caixinhas da memória, a turma que dissera não saber ou não ter nenhum objeto que pudesse trazer, nos emocionou com as histórias ali contadas.

 

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Fermentando melhores dias

Sr. Cícero, Sr. Bernardo e o Sr. José Maciel foram companheiros durante grande parte das visitas desse dia. Encerramos nosso itinerário de visitas num lugar não menos significativo que a  Associação dos kanindé. Ali tivemos a oportunidade de ouvir mais sobre a Festa do Mungunzá como um banquete em celebração à alegria de se ter o alimento posto à mesa e até mesmo sobre habilidades de caça.

 

Ouvimos ainda a fala de Helenilson, filho de Sr. Cícero, jovem historiador e diretor da Escola Indígena que reforçou o pensamento de que a juventude kanindé atual, em sua opinião, precisa incluir em sua identificação como indígena a busca pelo conhecimento, pela conexão com as novas demandas e tecnologias desenvolvidas pela modernidade. Destacou o acesso a uma universidade pública como um direito pelo qual esses jovens precisam lutar e garantir. Em seguida, veio o alimento. O mungunzá estava uma delícia!

No batente de uma Artesã Creusa e seu Croché

Dona Creuza, foi uma das entrevistadas a reforçarem a fala de que belas peças como a do seu artesanato   tinham sido aprendidas com Dona Albertina, que se tornou, por sua vez,  um verdadeiro mito das terras do povo kanindé de Aratuba e objeto de pesquisa para aquelas e aqueles mais curiosos.

Foi com alegria que Dona Creuza nos recepcionou em frente de sua casa ou, como dizem outros, no seu batente, dizendo que “aquilo que soubesse responder responderia”. Assim aconteceu. Sentada num banquinho, enquanto respondia as perguntas da equipe de entrevistadores da turma, ela até parecia uma contadora de histórias, falando de meados dos anos 50, época que seus olhos não presenciaram, mas que é conhecimento adquirido desde os seus familiares

Rajado Local de Partida

Como ponto de partida, fomos ao Rajado, local no qual os Kanindés de Aratuba realizam o plantio de subsistência. Tivemos como companheiros nessa empreitada a vitalidade e alegria do senhor Bernardo (o “sinhô”),e de José Marciel que , além de fazer “de um tudo”, é também um guerreiro versado na arte da caça.

 Ambos agricultores e fortes na labuta, aquelas e aqueles que conseguiam alcançar os passos apressados desses senhores, que rápido traspassavam os altos e baixos das veredas daquele caminho, podiam ouvi-los falando de reminiscências de um tempo em que muitos dos que hoje estão idosos faziam uma comitiva, semelhante a que estávamos fazendo, todos enfileiradinhos, indo ao roçado. As colocações dos entrevistados pareciam combinadas, já que se encaixavam umas as outras, construindo conceitos em comum.

Afinal, quais são os aspectos que hoje caracterizam e que devem ser preservados, sob o risco de comprometer a identidade de um índio kanindé de Aratuba? Melhor, como lidar com a rebeldia própria do ser jovem em tempos cuja a juventude indígena atual se encontra tão atravessada pelos conceitos e modelos da globalização? O que pode ser conservada da experiência e sabedoria dos antepassados, sem que isso se transforme em imposição de uma geração Kanindé sobre a outra?

 

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Essas questões ficaram em pauta durante todo o dia. Em geral, as falas se concentraram na reflexão de que as e os mais jovens precisam entender que são descendentes de agricultores. Esses mais velhos expressaram o medo deles de que aquelas terras em pouco tempo deixassem de ser propriedade de suas famílias, justamente por que iriam falecer e não haviam não percebiam muitos  interessados em continuar o trabalho. Creio que aquele silêncio, que imperou em seguida, foi ensurdecedor no íntimo da turma.

A Gruta e a bela história de Dona Rita

Uma gruta pequenina de Nossa Senhora de Aparecida que, na curva da estrada, materializa o agradecimento pelo filho de dona Rita, só recentemente falecido, mas antes recuperado de um acidente cuja morte parecia certa;

“Dona Rita aqui nos conta um pouco de sua história

Fala também da Gruta um símbolo de fé e glória

Feita depois de uma promessa que sua família fez

Com a promessa cumprida a Gruta agora tem sua vez!”

*Valdilane Santos Alexandre

(Participante do Projeto Patrimônio Para Todos 2012/Aratuba)

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Memórias guardadas num Caçuá.

Poucos teriam a sabedoria e humildade do Sr. Raimundo Terto, 45 anos, artesão e agricultor, de reconhecer a existência real de seres como o Curupira, que na boca das e dos mais jovens é difundido com o rótulo perjorativo de ser apenas uma lenda, uma invenção fantasiosa

Sr. Raimundo nos pede ainda que o tratemos especialmente como agricultor. Admite que seu artesanato não tem muito valor naquele lugar, “talvez apenas na cidade” é o que diz.

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 Não disse que os estudos são menos importantes. Contudo, ressalta que o ensino dado a essa juventude na escola não tem garantido a ela o emprego nem as melhorias financeiras com as quais sua esposa e ele aguardam com ansiedade. Coloca que ainda mais sem o apego com a terra, com a agricultura, ele visualiza a triste profecia dessa juventude tendo que pagar caro no comércio para obter a sua subsistência.

Posto de Saúde da Comunidade de Fernandes – Aratuba

Suzanete, agente de saúde, residente bem mais adiante da escola rural, mesmo não estando presente na entrevista anterior pareceu ouvir as palavras da agente administrativa e fez coro àquelas colocações. Acrescentou que não se via morando em outro lugar, principalmente numa cidade grande como Fortaleza.

 Essa afirmativa certamente conversou com os sentimentos daquelas e daqueles jovens com relação ao pertencimento que sentiam à comunidade do Sítio Fernandes. Poucos, e geralmente aquelas e aqueles mais velhos da turma por questão de trabalho, é que disseram que já moraram algum tempo fora da comunidade e que sem muitas oportunidades e pela forte saudade resolveram voltar ao chão aratubense.

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O Posto de Saúde é de grande importância para a comunidade, mas é válido lembrar que a população também se utiliza dos saberes ancestrais relacionados as plantas e ervas medicinais abundantes no local.

Museu Indígena Kanindé de Aratuba

Fomos recebidos no Museu indígena por Dona Tereza, esposa do Cacique Sotero, que no momento não estava presente na comunidade. Ela gentilmente nos permitiu entrar para conhecer mos as peças e artefatos guardados no local, além de nos falar um pouco sobre a importância do lugal para a afirmação da identidade Kanindé.

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No Museu podemos encontrar um pouco de tudo desde panela de barro, bebidas como o Mocororó, chapéus de palha, cordões, artefatos de pena, animais mumificados até algumas armas utilizadas pelos ancentrais e etc; Segundo Dona Tereza o Museu é importante para conhecer a história do povo de Aratuba.

 

As Memórias da Capela de São José.

Dona Alzira, uma incansável contadora de histórias, capaz de passar dias, como disse, arrancando lágrimas e sorrisos do baú de suas memórias, sem notar que é pouca saliva para tanta coisa a dizer.

Há muito o que se contar realmente, dona Alzira. Começo pelo início e mesmo assim tenho dúvidas se não estou pregando uma peça em mim mesmo, encantado com o toque do vento que bem parece a voz dos ancestrais do Sítio Fernandes representados em tua voz.

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O tempo torna esses sussurros cada vez mais inaudíveis e distantes. O fio da vida desses ancestrais deslizando além das ladeiras como uma pipa levada ao vento. Como crianças seguimos ao encontro deles em disparada. É preciso caminhar.Segundo a simpática senhora a Capela existe desde a década de cinquenta se tornando símbolo de devoção ao padroeiro São José.

Rodovida, Vida que Segue.

Dona Isaura ainda nos cedeu uma nova sessão de entrevistas no mesmo dia. O cuidado que tínhamos era de não cansá-la com tantas perguntas, mas, surpreendentemente, quem estivesse presente veria quão disposta ela se mostrou a mais aquela audiência.

Muitas transformações se processaram frente aos olhos dessa parteira e rezadeira. Por isso, estávamos sedentos de acessarmos mais um pouco das imagens ocultas em sua memória. A lucidez de suas recordações nos colocou diante da  resistência que ela como agricultora disse também ter sido obrigada a desenvolver, assim como os demais de sua juventude, para superar os tempos de escassez.

Labutando com a terra, vivia-se um certo distanciamento de tudo. Vemos hoje no semblante de Dona Isaura sua satisfação por poder listar tantos bens hoje conquistados pelo Sítio Fernandes, tais como energia elétrica, água encanada, dentre outros, que por muito tempo, certamente, foram só esperanças depositadas sobre sucessivos governos, escondidos estes atrás e bem além das serras.

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A estrada rodoviária que, ali a diante, passa cortando a região é como o símbolo da ligação que possibilitou as transformações infraestruturais, razão que fazem brilhar os olhos de D. Isaura.

Parteira da Identidade

Dona Isaura, parteira e rezadeira, fora os mesmos braços que trouxeram à luz, acolheram e abençoaram seguidas gerações desse povo. Com a mesma simplicidade, ela nos ilumina dizendo que todo mundo é reponsável por escolher o rumo que quer seguir e, assim como ela se reconhece, se se quer proclamar que é indígena “se diz e pronto”. Isso para ela não era tão importante. O que seria essencial, então?

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O curto espaço de tempo dessa conversa não nos permitiu elaborar as perguntas certas e seguimos o restante do itinerário de visitas ainda sedentos de aproveitarmos mais dessa fonte tão preciosa.Vale corrigir a percepção das e dos jovens durante a visita que fizemos também à dona Isaura, por exemplo. Certamente não estávamos ali com o propósito de sabermos das opiniões e referências dessa idosa, 84 anos, senão pela busca de uma raiz na qual as histórias individuais se entrecruzam e mostram a semente da identidade do povo Kanindé de Aratuba.

O Artesanato do Pajé Manoel

              Dar tempo e atenção a pessoas idosas como o senhor Manuel, 84 anos, pajé da comunidade do Sítio Fernandes, é uma tarefa que exige coragem.

            Para contemplarmos o vigor da fala do sr. Manuel há literal e simbolicamente que se enfrentar uma imensa ladeira. Alcançar o cume onde se encontra sua residência exige muito fôlego e disposição física bem como para chegarmos leves e permeáveis à memória desse senhor octagenário, é aconselhado que se largue os preconceitos pelo caminho.

            Suas mãos ainda guardam a inteligência de quem soube vencer a situação de miséria de seu tempo. Ninguém diria que aquele senhor sentado e ouvindo seu radinho à porta de casa, seja um artesão capaz de esculpir utensílios de madeira tão impressionantes mesmo com o andar cansado, apoiado em sua muleta e com a pouca visão.

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            Explicou a nós do projeto, que formávamos a sua frente uma turma de entrevistadores e dos quais, como disse, só avistava sombras sem rosto, que em seu tempo o estudo era menos importante.

            Destaca, com uma voz firme e bem humorada, que muitos dos proprietários, que o exploraram e enriqueceram à custa do suor do seu rosto, não foram agraciados com sua resistência e longevidade como indígena, cujo mérito é conhecido “mundo a fora”, como disse ao projeto.

Escola Rural

À tarde, na visita que fizemos à escola rural da comunidade, ouvimos de Vianete, assistente administrativa da escola, o incentivo de que as e os adolescentes se dedicassem aos estudos. Disse que ainda que as e os jovens não quisessem se dedicar à agricultura como, o fizeram seus familiares, conhecer bem a experiência do que é ser agricultor é algo do que esses jovens não deveriam se esquivar.

Túnel de Recordações

         Cumprimos hoje a etapa de construção das equipes com suas respectivas funções, que protagonizarão a pesquisa com as pessoas da comunidade. Trilhando as veredas da memória, temos cuidado para que a aventura não se confunda com imprudência e despreparado.

          Reforçamos o plano de aula visando incentivar a cumplicidade entre os sujeitos, promovendo a certeza de que um trabalho em equipe não anula as individualidades. Diante de tantos bens culturais elencados pelo povo Kanindé de Aratuba, se aguçou mais ainda o compromisso da equipe de facilitadores em que auxiliar as e os adolescentes da comunidade sejam exigentes quanto ao registro e publicização desses dados para o mundo.

          Crescemos bastante. Estamos remexendo, interligando e ganhando consistência em nós mesmos, como ingredientes de um caldeirão fervilhante de tradições e costumes. A leitura e compreensão do caderno do caderno étnico indígena parece ter reforçado o auto reconhecimento do grupo aos índios Kanindé.

          Descobrimos durante a aula que o Toré do povo do Sítio Fernandes é distinto dos Tremembés  de Almofala, fato de relevante importância para as e os participantes que demonstraram interesse e conhecimento a cerca do movimento e luta de sua comunidade.

          É impossível amar ao que desconhecemos o valor. Enfatizamos essa afirmativa e temos tocado a identidade desses jovens enquanto indígenas.

          Notamos debates menos impessoais, a inquietação de muitas perguntas. A  curiosidade rompendo a amnésia do pertencimento étnico. Garimpamos da história a realidade do etnocentrismo europeu. Falamos de resistência e diversidade cultural; os sorrisos brotaram e responsabilidades foram partilhadas.

          Uma nova realidade se processa. A prova de que esses valores ancestrais ainda vivem no íntimo desses jovens globalizados. Um amor nos espera nesse túnel de vivências e recordações.

Confidentes de um Patrimônio

          E nosso segundo dia de oficina os alunos se mostraram mais participativos, através da construção da árvore genealógica. Eles perceberam que muitos dos que estão na oficina e também na comunidade fazem parte da sua família bem como de sua história.

          A partir do conceito de patrimônio cultural a turma passou a compreender que algumas coisas que achavam banais, tal como o Torém, relatado como algo sobre o que tinham pouco interesse. Será o início da perda de outro costume?

          A oficina propôs o desafio que exigia da turma a ação de descrever quais os bens que eles consideravam valiosos para a comunidade e dignos de serem conservados.

Foi assim que espontaneamente foram elencados os bens imateriais que serão aproveitados em nossa pesquisa de campo.

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          O que pareceu no início um naufrágio em terra desconhecida, agora mostra-se bem mais convidativo. O ambiente está bem mais familiar. Seguimos avançando além do mistério, sentindo a hospitalidade do lugar e das pessoas.

Curvas da Memória

          Hoje iniciamos nossa experiência como facilitadores das oficinas de educação patrimonial, proporcionada pelo Projeto Patrimônio Para Todos na região de Aratuba, interior do estado.

Aqui recebemos a visita do secretário de cultura do Estado, Francisco Pinheiro, e da coordenadora de artes e ofícios, Nilde Ferrreira, que nos falaram um pouco da história da luta indígena.

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Em sua fala foi ressaltada a estratégia histórica do poder europeu dominante, a tentativa de silenciar e negar a identidade das etnias indígenas e negra.

            Ficamos extasiados pelo interesse que a comunidade apresentou em participar das aulas, fato que se expressou tanto pela recepção na qual seu Cícero, o irmão do cacique dos índios Kanindé, nos convidou à integrarmos ao ritual  do Toré quanto pelo número expressivo de pessoas inscritas para as oficinas.

            Incluímos então, desde o momento da apresentação dos grupos, colocações que incentivavam o ato de fazer perguntas como sendo o alimento para os demais dias de oficina bem como a percepção de que falar de si abre espaço também para a consciência de uma ancestralidade.

            A aventura já começou, no território da memória, uma estrada com diversas sinuosidades ocultas, outras descobertas que só em pensar emerge a curiosidade.