Como ponto de partida, fomos ao Rajado, local no qual os Kanindés de Aratuba realizam o plantio de subsistência. Tivemos como companheiros nessa empreitada a vitalidade e alegria do senhor Bernardo (o “sinhô”),e de José Marciel que , além de fazer “de um tudo”, é também um guerreiro versado na arte da caça.
Ambos agricultores e fortes na labuta, aquelas e aqueles que conseguiam alcançar os passos apressados desses senhores, que rápido traspassavam os altos e baixos das veredas daquele caminho, podiam ouvi-los falando de reminiscências de um tempo em que muitos dos que hoje estão idosos faziam uma comitiva, semelhante a que estávamos fazendo, todos enfileiradinhos, indo ao roçado. As colocações dos entrevistados pareciam combinadas, já que se encaixavam umas as outras, construindo conceitos em comum.
Afinal, quais são os aspectos que hoje caracterizam e que devem ser preservados, sob o risco de comprometer a identidade de um índio kanindé de Aratuba? Melhor, como lidar com a rebeldia própria do ser jovem em tempos cuja a juventude indígena atual se encontra tão atravessada pelos conceitos e modelos da globalização? O que pode ser conservada da experiência e sabedoria dos antepassados, sem que isso se transforme em imposição de uma geração Kanindé sobre a outra?
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Essas questões ficaram em pauta durante todo o dia. Em geral, as falas se concentraram na reflexão de que as e os mais jovens precisam entender que são descendentes de agricultores. Esses mais velhos expressaram o medo deles de que aquelas terras em pouco tempo deixassem de ser propriedade de suas famílias, justamente por que iriam falecer e não haviam não percebiam muitos interessados em continuar o trabalho. Creio que aquele silêncio, que imperou em seguida, foi ensurdecedor no íntimo da turma.