Cultura das águas: história, memória e patrimônio natural dos rios do Ceará

Meninos na água

Foto: Francisco Flor

O patrimônio natural é permeado de valores que perpassam a esfera do simbólico, do afetivo, do místico, da identidade. Para ser compreendido, é preciso adentrarmos nas nuanças do cotidiano, da memória coletiva e da apropriação social e simbólica que fazem dele.

Natureza e cultura são, portanto, campos articulados e indissociáveis, como esferas integradas de uma relação construída e reconstruída historicamente entre o homem e o meio por intermédio da cultura.

A relação vital que as sociedades estabelecem com a água e com as suas fontes marca, também, a forma como as pessoas ocupam o espaço. Nas zonas áridas e semiáridas, a escassez d’água torna a proximidade dos rios e lagos o principal condicionante para se ter garantidas as condições mínimas e essenciais para a reprodução da vida

Compreender os caminhos das águas e a influência delas sobre a paisagem são saberes utilizados pelos seres humanos desde sempre. Os primeiros agrupamentos humanos nômades perseguiam lugares onde a caça fosse mais farta, mas a disponibilidade de água era condição para a escolha dos locais de descanso. Hoje, ao longo de cursos d’água importantes e no litoral são encontradas grandes cidades.

A abundância de água em meio à quase completa escassez dela ao redor dos grandes rios foi a razão que possibilitou a ocupação do território cearense na época da colonização, cuja interiorização se deveu aos currais de gado que foram se estabelecendo ao longo das margens dos rios, formando uma rede interligada de caminhos que convergiam para Fortaleza. A pecuária extensiva foi, portanto, uma atividade que consolidou a ocupação e a economia colonial do interior cearense e permitiu o surgimento de vários personagens ligados à vida sertaneja, como o vaqueiro, por exemplo, ainda presente nas práticas cotidianas de muitas cidades.

Mais do que ambientes aprazíveis, os cursos d’água criam condições para a constituição de paisagens culturais com a interferência da atividade humana sobre a natureza. Assim, ao longo dos rios vão se formando cidades pequenas e médias, como Sobral e Limoeiro do Norte, por exemplo, que cresceram às margens dos rios Acaraú e Jaguaribe, respectivamente.

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